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Professor de História.Graduado em História,pós-graduado em Gestão Educacional (URCAMP) e Mestre em História pela PUCRS com dissertação intitulada “Movimento Operário em Alegrete: a presença de imigrantes e estrangeiros(1897-1929)”. Co-editor e colaborador da seção História Pampeana do Site Estratégia e Análise.com.br.Membro da Associação Nacional dos Historiadores (ANPUH).Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Alegrete (IHGA).

Jacques Le Goff

"Deve-se agir de maneira que a memória coletiva sirva para a libertação, e não para a servidão dos homens." Jacques Le Goff







quarta-feira, 21 de abril de 2010

1º DE MAIO: dia Internacional dos trabalhadores.



Ilustração dos quatro operarios mortos pelos patrões e governos. Origem do 1º de Maio.

O 1º de maio, dia internacional dos trabalhadores, é data de maior significado político na cultura e identidade de classe. Este texto tem a intenção de conhecer a origem do 1º de maio e seu significado na formação do movimento operário internacional.
Michelle Perrot escreve que a “invenção do 1º de maio” está relacionada a dois fatores que, dependendo da corrente ideológica, destaca-se um ou o outro. Os operários do final do século XIX preocupavam-se em estabelecer uma data como marco fundamental de unificação internacional da luta dos trabalhadores. Esta preocupação era compartilhada por trabalhadores dos Estados Unidos, por franceses e de outros paises. Os debates apontavam a importância de serem aproveitados elementos da cultura popular para a escolha desta data. Vários fatores apontavam para a escolha de um dia que culminasse com a Primavera. Já existia uma tendência cultural em comemorarem-se o 1º de maio como dia do renascimento (festejavam-se as boas colheitas, etc.).(PERROT,1988, p.130)
Nos Estados Unidos, o 1º de maio é inaugurado em 1886, pelos “Cavalheiros do Trabalho”, e já tinha suas vítimas: a violência dos confrontos com a polícia, naquele dia, resulta em nove mortos em Milwoukee e seis em Chicago. O processo dos “oito mártires de Chicago”, entre os quais, quatro são enforcados, em 11 de novembro de 1887, tem uma repercussão real, visível nos jornais e no imaginário popular. (grifo meu) (Idem.)
A II Internacional, em Congresso em Paris, no dia 20 de julho de 1889, discute a proposta da escolha e uma data fixa para um dia de protesto internacional, para reivindicar as 8 horas de trabalho. Leva-se em consideração que havia sido decidida uma manifestação para o 1º de maio de 1890, pela American Federation of Labour, em seu Congresso de 1888. (grifo meu) (Idem.)
De acordo com a revista “Solidariedad”, uma série de protestos tem inicio no dia 1º de Maio de 1886, na cidade de Chicago nos Estados Unidos. Estes protestos culminam com a prisão e condenação à morte dos operários organizadores das manifestações que reivindicavam oito horas de trabalho diário. Os oito trabalhadores chamavam-se: Spies, Flelden, Neebe, Fisher, Schwab, Lingg, Egel, Parsons, dos quais quatro morreram na forca. Os trabalhadores do mundo inteiro decidiram que 1º de maio seria um marco na luta por melhores condições de trabalho e de luto pela morte dos “mártires de Chicago”. (REVISTA SOLIDARIEDAD, 1988, p.08)
Eric Hobsbawn escreve que, além da reivindicação das 8 horas de trabalho, em cada país, em cada localidade, acrescentavam-se pautas específicas aos protestos. O “ritual” consistia em um dia de “Greve geral” internacional, com simbologias, bandeiras, conferências etc. Porém, segundo Hobsbawm, “o desfile público dos trabalhadores como uma classe consistia o núcleo do ritual.”(HOBSBAWN, 1997, p.293)
Segundo Silvia Petersen, em 1891, aparecem as primeiras notícias do 1º de maio no Brasil. Em 1893, evidenciam-se algumas manifestações em cidades do Rio Grande do Sul. (PETERSEN, 1991, p.30-52) Apresentam-se alguns exemplos de comemorações do 1º de maio, para estabelecer algumas comparações, assumindo os riscos das generalizações. Ao tratar da comemoração do 1º de maio de 1905, em Porto Alegre, Petersen descreve que no evento ocorre utilização de banda de música, bandeiras desfraldadas, festa campestre, conferências, baile, ato político deliberativo. (PETERSEN, 2001, p.163) Edgar Rodrigues publica o texto: “O 1º de maio na História do proletariado paulista”, texto este encontrado pelo autor no jornal A plebe, 1º de maio de 1918. Segundo o texto, a primeira comemoração de destaque do 1º de maio em São Paulo ocorre em 1898. Ocorre passeata pelas ruas do centro da cidade com bandeiras vermelho e pretas dos anarquistas e banda de música. No ano seguinte, a comemoração é feita com comícios e passeatas. O mesmo ocorrendo em 1901. Nos anos de 1902 e 1903, não há paralisação do trabalho, mas há conferências e comícios. Em 1904, diz o texto, é melhor o nível das manifestações operárias. Em 1905, pelo dia, há comícios e à noite um baile. Em 1906, são feitos comícios em praça pública e em salões. Em 1908, é promovido um comício e à noite um festival com a representação de peças de caráter social. Destaca-se no texto reproduzido por Edgar Rodrigues que: “No ano de 1911 é que foi legalizada a data de 1º de Maio, passando a figurar na folhinha como feriado nacional.” Faltam exemplos nos quais as comemorações degeneravam em conflitos com as forças repressivas dos patrões e do governo. Em 1906, um congresso já alertava que o 1º de maio era um dia de luta e de luto, não de festas. Seria um dia em que os trabalhadores internacionalmente lembrariam aqueles operários que morreram lutando pelos direitos adquiridos e pelos que ainda faltavam adquirir. (RODRIGUES, 1992,p.61)
Silvia Petersen faz um estudo sobre o 1º de maio, que, segundo ela, possui algumas características:
- De 1891 a 1894, acontece uma transição nas comemorações do 1º de maio no Brasil, em uma fase na qual o movimento operário e o 1º de maio eram liderados por intelectuais, profissionais liberais e, até mesmo, militares e, predominantemente, composto de brasileiros, para um momento em que predominavam estrangeiros e com vinculação mais orgânica com os operários, por sua própria condição social ou por atuarem como “intelectuais da classe”;
- As transformações ideológicas que ocorrem nas comemorações do 1º de maio vão de um socialismo heterogêneo a um anarquismo também heterogêneo;
- da presença significativa do intelectual, passa a presença marcante do imigrante;
- Desenvolve-se o xenofobismo da classe dominante contra os operários imigrantes;
- mudanças na comemoração, passando de uma atividade festiva para atividades de protesto;
- passam a acontecer prisão e deportação de militantes. (PETERSEN,1981, p.51)
No final do século XIX e inicio do Século XX existiam duas correntes que disputavam o significado e a simbologia do 1º de maio. Enquanto o dia era hegemonizado pela Social-Democracia, com seu centro irradiador nos Partidos Social-Democratas europeus e ligados a II Internacional (alemão, italiano, Frances, português e espanhol) as atividades do primeiro de maio eram festivas. Quando passou a hegemonia dos anarquistas, a partir do inicio do século XX, suas referencias eram os protestos de Chicago e o assassinato dos operários em luta pelas oito horas de trabalho. O dia deixou de ser Festivo e passou a ser de protestos e greves. Um dos aspectos mais interessantes é que no hemisfério norte, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, o 1º de maio é uma data característica do inicio da Primavera (ver Perrot). Para certas culturas, a Primavera é a data do renascimento, ressurreição. O 1º de maio em sua origem possui este caráter místico e messiânico de certas culturas. Depois da morte dos trabalhadores em Chicago, o 1º de maio faz lembrar aquela frase que diz: “Por mais rosas que os poderosos matem nunca conseguirão deter a primavera!”


BIBLIOGRAFIA:
Este texto é uma adaptação de parte da dissertação: O Movimento operario em ALegrete: a presença de imigrantes e estrangeiros (1897-1929), de Anderson R. Pereira Corrêa.
HOBSBAWM, Eric. A produção em massa das tradições; Europa, 1879 a 1914. In: a Invenção das Tradições. Organização de Eric Hobsbawm e Terence Ranger. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. Origens do 1º de maio no Brasil. Textos para Discussão/1. Porto Alegre. Ed. Universidade, 1981.
PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. “Que a União operária Seja Nossa pátria!” História das Lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações. Porto Alegre; Editora Universidade; 2001.
REVISTA SOLIDARIEDAD. 1º de mayo de lucha. p.08; Año 02; Nº 04; Mayo 1988. (R.O.Uruguay).
RODRIGUES, Edgar. A nova Aurora Libertária (1945-1948). Rio de Janeiro. Achiamé, 1992.
Imagem:http://www.wilsonsalmanac.com/images2/nov11_haymarket_exec_sm.jpg

5 comentários:

  1. Anderson

    A história é construída também pelo olhar. Nas achas que é autoritário ser o menino do passo certo, o anarquismo como o farol do mundo, agora o 1º de maio combativo é obra exclusiva dos Anarquistas, segundo o Anderson, esta posição homogenista e sectária, de nada contribui para a unidade dos lutadores socias, a História também é fonte de manipulação, cada qual pode refaze-la conforme as sua convicções, até para se auto denominar como o "dono da verdade".
    grisa

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  2. Vou tentar responder o seu comentario, se é que consegui enteder seu texto, pois o Sr. poderia ter organizado melhor sua pontuação!!!
    Tentarei também não ser ofensivo e respeitar sua ignorância em matéria de história.
    - em primeiro lugar concordo que "a história é construida pelo olhar", e como escreveu Jacques Le Goff: nós historiadores não escapamos das ideologias, porém podemos e devemos ser imparciais;
    - em segundo lugar, em nenhum momento afirmei que o Anarquismo é farol de nada. Inclusive aqueles que pensam que tem o "guru", o "messias" e a "bíblia" da economia-politica e do socialismo são certas correntes do marxismo e não o anarquismo;
    - Sectário é quem é fanático, que pertence a uma seita com gurus, messias e suas bilbias, formulas mágicas e mantras que são repetidos embora fora de contexto. A paixão do senhor lhe segou tanto que o Sr. leu o texto com sua fé,com seus mitos e fantasmas.Não entendeu o que leu. Já lhes explico: Quando escrevo que quando surge o 1º de maio combativo e classista a "hemonia" do "movimento operario" era dos anarquista, não excluo outras correntes (O Sr. enquanto sociologo deveria entender o significado de "hegemonia" em Gramsci). Muito embora a historigrafia afirme a existência de dois macro-grupos: social-democracia e anarquistas. O texto que escrevi trata do final do seculo XIX e início do século XX. Fase do Primeiro Imperialismo - antes da Primeira Guerra Mundial e da REvolução Russa.Não estou falando de outro período histórico a não ser deste. Outras correntes combativas e revolucionárias do socialismo surgem após a REvolução Russa, por isso não foram citadas no texto.Os historiadores que citei, reconhecidos nacional e internacionalmente, assim como toda historiografia do movimento operário, comprova o que escrevi (E estas fontes são das mais qualificadas na área). Tive o cuidado de citar Perrot e Hobsbawn que foram dos PC's inclusive.
    - Ficou dificel saber quando a critica era ao anarquismo, ao texto ou ao autor do texto!!!
    Concordo que qualuqer filosofia e teoria quando pensam ser o "Farol do Mundo" podem tornar-se autoritárias.
    Acho que o Sr. me chamou "homogenista" e "sectario": ja tentei responder acima.
    Não aceito sua acusação de "manipulação" e de ter escrito conforme minhas convicções, também não quero ser o dono da verdade.Escreva a seguir, mostrando fontes e evidências confiaveis, outras correntes que construiram o 1º de maio classista, combativo e de protesto antes da Primeira Guerra Mundial. Com certeza, se o SR. Fizer isso, nos meus próximos textos publicarei e citarei a fonte.
    Por enquanto, tudo que escrevi, foi fundamentado na ética de profissional da história. É a primeira ofensa publica que recebo, e que fica registrada de forma escrita na rede internacional. Nem os latifundiários de extrema direita, nas minhas conferências, palestras e textos publicados haviam me feito ataques pessoais e os publicados.
    Não se preocupe, este texto sobre o 1º de maio não sera distribuido em ALegrete no Ato de Protesto que estamos construindo.(Com certeza teremos outros!)

    Anderson

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  3. Parabéns por mais uma vez fundamentar teus textos.
    E ao dissertar sobre a história do primeiro de maio nos mostra que o dia a dia dos trabalhadores é feito diariamente e efetivamente na luta, não nos devaneios das poltronas e nas analises conjunturais publicadas em cartilhas surradas e boforentas.
    O ato de primeiro de maio hoje é um momento de reflexão coletiva; o primeiro de maio é todos os dias na verdadeira luta, do pé no barro, da militancia junto a classe.
    Todos a luta permanente!!!!!!!!!!!

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  4. Guilherme - Cachoeirinha26 de abril de 2010 às 10:15

    Gostaria de ver o grisa fundamentar com dados e fontes o que está tentando dizer. Ou será que dói reconhecer que em determinado período histórico os anarquistas tiveram hegemonia?
    E outra, o texto do Anderson não é nem um pouco sectário, conforme ele mesmo argumentou.

    Abraços.
    Viva o 1º de Maio Classista e Combativo!

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  5. Augusto - Restinga - Porto Alegre

    Realmente o 1º de Maio segue em disputa, uns para fortalecer uma concepção classista e combativa, outros conforme estratégia centralista, acumular para o bojo do partido. Mas vejamos bém, é apenas um recorte de um período mas que históricamente nossas forças adverssárias de esquerda fazem questão de esconder e enterrar acontecimentos que por muitas as vezes pouco estudados com um preciso rigor. Parabéns Anderson Corrêa Perreira, muitos outros assuntos e fatos ainda carecem de ser desenterrados.
    Com toda modéstia, nossa história nos ensina e nós fortalece.
    Por um 1º de Maio Cassista e Combativo!
    Por um federalismo Crioulo de nossas lutas!
    Não tá Morto quem Peleia!

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